Congresso Brasileiro de Microbiologia 2023 | Resumo: 555-2 | ||||
Resumo:Turfeiras apresentam um grande papel na regulação do clima mundial em virtude de seu alto armazenamento de carbono (30% do carbono terrestre mundial) e da emissão de gases relacionados ao efeito estufa, como o metano. A microbiota de turfeiras tropicais e subtropicais ainda é pouco estudada, e no Brasil os estudos com este propósito ainda são escassos. Nesse contexto, esse trabalho visa caracterizar comunidades microbianas de duas turfeiras subtropicais brasileiras, por meio de sequencias de DNA identificadoras (genes dos RNAs 18s e 16s). Para tal, amostras de água foram coletadas em março de 2022 das turfeiras “Bananeiras” (BN) e “Meio” (ME), de uma área de floresta ombrófila mista da RPPN Pró-Mata-PUCRS (São Francisco de Paula, RS). Em cada turfeira foram coletas amostras de 250 mL de água em 5 pontos, com distância de aproximadamente 20 m entre si. Medidas de pH, temperatura e oxigênio dissolvido foram realizadas em campo. Em laboratório as amostras de água foram filtradas com membranas e o material retido foi separado para extração do DNA. A extração foi realizada com DNeasy PowerSoil Pro Kit (Qiagen), seguindo as instruções do fabricante. O DNA foi quantificado e enviado para o laboratório Integrated Microbiome Resources (IMR, Canadá), onde foi sequenciado através da plataforma Illumina MiSeq. As sequências foram importadas para o
software Quantitative Insight Into Microbial Ecology (QIIME2), onde foram limpas utilizando a função
denoise da ferramenta DADA2, especifica para sequencias de amplicon illumina. Uma análise de
rarefação foi realizada para determinar suficiência amostral. As sequencias limpas foram organizadas em uma matriz de variantes de sequência de amplicon (ASVs), a partir da qual foram realizadas a identificação taxonômica das comunidades, utilizando o banco de dados SILVA v138, e análises de diversidade alfa. O gráfico de rarefação gerado após limpeza das sequencias revelou suficiência amostral. Análises de diversidade alfa de procariotos indicaram que a turfeira BN teve o ponto com a maior diversidade (índice de Shannon e observed features) e também o que apresentou a maior equitabilidade (eveness), dentre todas as amostras. Foram identificados um total de 22 filos de Bacteria, sendo Proteobacteria e Verrucomicrobia os mais abundantes. Estes filos de bactérias são amplamente diversos, sendo os únicos que contém bactérias metanotróficas conhecidas. As classes Alphaproteobacteria (família Acetobacteraceae), Gammaproteobacteria (Comamonadaceae) e
Verrucomicrobiae (Pedosphaeraceae) apareceram como as mais abundantes em ambas as turfeiras. Duas linhagens de Archaea foram detectadas, uma do filo Nanoarchaeota (ordem Woesearchaeales) e a outra do filo Micrarchaeota (Micrarchaeales). A primeira ordem apresenta espécies anaeróbias descritas como tendo relação sintrófica com arqueias metanogênicas, com indícios de que podem impactar a metanogênese em ecossistemas como turfeiras. As espécies de Micrarchaeales são conhecidas por serem versáteis metabolicamente, envolvidas na produção de metano em digestores anaeróbios, e encontradas em ambientes hostis, como turfeiras. Esse trabalho é o primeiro a
caracterizar a microbiota de turfeiras do Rio Grande do Sul. A composição de procariotos encontrada está de acordo com a observada na literatura para turfeiras tropicais, com dominância de Proteobacteria e a alta frequência da família Acetobacteraceae, além da presença de ordens de Archaea envolvidas em metanogênese. Palavras-chave: Microbiologia, Bioinformática, Turfeiras, Metabarcoding, Ecologia microbiana Agência de fomento:CAPES |